terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A ARVORE QUE NÃO PARTIA

Desde jovem tinha uma mãe de um amigo meu que dizia que eu era como uma "árvore"; mesmo com muito vento dobrava mas nunca partia. E eu sentia-me forte!
Dizia ela isto porque era conhecedora da vida atribulada que passei a ter desde a separação dos meus pais tinha eu 12 anos; hoje em dia divorcio é um tema perfeitamente natural, mas, há algumas dezenas de anos atrás não o era.
Vivi uma separação dos meus pais que me marcou muito, mas, que igualmente fez de mim a tal "árvore" que sempre dobrou e nunca partiu, apesar de em alguns momentos ter faltado pouco.
A vida formata-nos para o bom e para o mal e acho demasiadamente fácil sermos transformados em algo que muitas vezes não queremos; sem o apoio dos nossos pais, amigos, família mais fácil o é.
Mas, voltando á mãe do meu amigo e à "arvore" que não partia, tenho hoje a certeza que essa segurança aparente, esse autocontrole demonstrado, esse exemplo que sempre fui, foi construído com base em muito sofrimento interior que me fez saltar etapas e me transformou num "homenzinho" demasiado cedo, não permitindo que construísse o meu ser com a paz interior que qualquer criança e jovem merece nessa idade.
Tudo tem o seu tempo e a seu tempo seremos amigos, pais, avós, ou um qualquer papel que naturalmente nos vai sendo atribuído pela vida. Os adultos têm obrigação de deixar as crianças e os jovens serem crianças e jovens, mas, com responsabilidade e acima de tudo amor.
Considero que hoje em dia impera a imaturidade e o facilitismo junto das nossas crianças e jovens, fruto de uma grande diversidade de factores directa e indirectamente relacionadas com a "instituição" familia, mas, compete-nos a nós pais e Sociedade, fazer um esforço redobrado de forma a permitirmos que os nossos jovens o possam ser efectivamente, não deixando de os responsabilizar e os preparar para as derrotas, as injustiças, as muitas dificuldades que irão encontrar nestes tempos difíceis.
Não defendo a criação a qualquer preço de "árvores" que não dobram; defendo a criação de "árvores" que tenham a flexibilidade suficiente para vergar e não partir, pelo facto de terem a seu lado outras tantas "árvores" que a amparam quando necessário.
Defendo que os adultos têm obrigação de deixar as crianças e os jovens serem crianças e jovens, mas, com responsabilização, muito apoio e muito amor.
E, muito importante para mim, tento todos os dias aplicar estes princípios junto dos meus!



3 comentários:

  1. Por motivos diferentes, mas exactamente na mesma idade, tudo o que eu considerava perfeito, tudo aquilo a que foi habituada depressa se tornava num pesadelo!
    De um momento para o outro tudo aquilo em que acreditava,amava e respeitava...simplesmente era um teatro bem encenado! Quando as coisas correm bem todos nos adoram, mas quando surgem as dificuldades todos nos criticam e pisam ainda mais!
    O amor rapidamente passa a ódio e o respeito perdesse por completo!
    Tinha duas soluções: ou aprendia ou aprendia à força!
    Criei o meu próprio Mundo e as minhas regras às quais sou fiel até hoje!
    Sou como sou...quem gosta, óptimo...quem não gosta, paciência!
    Não escolhi o caminho mais fácil, tal como você tive que aprender a gerir uma série de sentimentos contraditórios e como muito custo se vai fazendo o autocontrole, mas sempre com muita revolta por dentro!
    Ainda hoje sofro muito com tudo o que se passou e que se passa diariamente à minha volta!
    O meu sorriso estúpido disfarça dias mais tristes em que as lágrimas deviam cair e não caem e no lugar da brincadeira devia partir tudo o que me parecesse à frente e gritar bem alto!
    Usando a bonita comparação de uma árvore..."não sei como é que nunca se partiu!"
    Concordo totalmente!
    Cada etapa do nosso crescimento devia ser vivido no tempo certo! Ser uma criança feliz e um jovem realizado será de certo um adulto de sucesso, tanto a nível pessoal como profissional! Caso contrário, corre o risco de querer fazer as coisas no tempo que já não volta mais!
    Existe sempre vidas piores que a nossa e é nisso que penso que muitas vezes vou buscar a capacidade de continuar!

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  2. Com surpresa e elevado agrado me deparei com este espaço fantástico que acarinha e acalenta a reflexão provocativa saudável de pensamentos, ideias e valores.
    As árvores que não dobram têm raízes profundas, raízes que face à pobreza do solo envolvente cavam fundo e buscam onde beber, procuram um modo de sobreviver a toda a solidão a que são vetadas pela inexistência de um ambiente propício à sua preservação. Contudo, quanto mais o vento sopra e o solo não alimenta, mais as raízes progridem na procura e tornam a árvore mais sólida, mais valorosamente indobrável - contra tudo e contra todos.
    Feliz ou infelizmente, as árvores que não dobram tendem a rodear-se de outras árvores que não dobraram perante a intempérie, pois tal como aquela, prevaleceram, firmes nas suas fundas e fortes raízes, perante a incredulidade de quem em nada crê ou tudo desvaloriza.
    Entendo eu que os seus valores e princípios que soçobram, esses que são onde as raízes beberam e bebem para as árvores prevalecerem, são e serão os mesmos veiculados para os seus rebentos e, com sorte, para todos aqueles que às suas sombras se acolhem.
    A árvore que não dobra não está, de todo, sozinha.

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  3. O medo não está nas "árvores" que não dobram, mas sim, nas "árvores" que a todo o custo tentam aprender a usar a sua flexibilidade e mesmo assim correm o risco diário de se partir!
    Se partir...não há solução!

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