quinta-feira, 3 de março de 2011

BUKOWSKY ( traduzido )

O interior de Bukowsky está repleto de álcool e de dor e destila talento porque a única forma de curar a solidão é escrever, anelando que alguém compreenda a suja desolação que embarga a sua alma, pungente e atroz como se tivesse uma ratazana no estômago.
            A angústia é afiada como um estilete, impregnada de um cheiro nauseabundo como a ressaca que lê acompanha num novo dia de tristeza.
            Bukowsky mantêm a essência humana viva mas paga o preço com dor, e com palavras, com frases directas, sem maquilhar, como uma pancada violenta.
            Não há nada tão triste como seus escritos e suas palavras simples e mal sonantes empapam, atormentam, aprisionam a deplorável condição humana.
            Há alguma historia mais triste que a de Cass a rapariga mais bonita da cidade?




            As cicatrizes da sua cara não estão gravadas a fogo como as de seu pútrido interior, nem a sua poesia é simples como aparentam as suas palavras brutais.
            A vida de Chinasky, alter ego de Bukowsky, é uma sequência interminável de bebedeiras e de tristeza, um caminho enlameado que não leva a nenhuma parte, una loucura insana que se acerca perigosamente ao abismo, uma corrida de cavalos no hipódromo de Los Ángeles em que o prémio da aposta é uma morte agónica em solidão.
            A senda do perdedor é o início do caminho que se dirige à cidade real/imaginária em cujo centro viverá o velho decadente ao tempo que a sua volta todo se deteriora.
Neste mundo o herói é um carteiro anónimo, alcoólico e solitário que vive isolado e ao mesmo tempo no meio do torvelinho da cidade da luz mesmo que para ele só seja a cidade das trevas, ao tempo que passa pela sua vista centos de pessoas anódinas que se arrastam no desespero convertido já em rotina.
 O olhar de Bukowsky é a antíteses do tão famoso sonho americano, e este olhar se crava nas histórias de aqueles que sofrem, dos alcoólicos, das mulheres que têm que suportar a homens desequilibrados, de homens desequilibrados que não têm quem os suporte.
O olhar de Bukowsky é uma balada brutal que estremece os pilares da sociedade, dando voz aos que perdem, na sociedade em que só se conhecem aos que triunfam.
O mais terrível das obras de Bukowsky é a ideia de que não há nenhuma possibilidade de esperança, mesmo nos jovens olhos azuis escandinavos que recorrem o mundo para conhecer a lenda, e o contraste do corpo decrépito e gordo ao lado da pele branca e jovem apenas faz realçar que a vida é miséria ao tempo que esperamos a morte.
            O animal está livre passeando-se pelos seus domínios…

                                                                                             
                                                                                              ASTRUD

UN PEQUEÑO REGALO DE BIENVENIDA ( traduzido )

A primeira vez que fui ao Museu do Prado foi numa gélida manhã madrilena, com temperaturas negativas e um frio glacial que atravessava os ossos.
            As recordações que se agrupam na minha mente desta primeira visita, antes de entrar no museu, estão relacionadas exclusivamente com o frio, um frio inclemente que convertia em um acto hostil o simples facto de respirar.
            Se calhar de alguma forma este ambiente implacável condicionou o meu estado de espírito e apesar  da alegria que me embargava por ver com os meus próprios olhos algumas das obras que conhecia de ver nos livros, subjazia em mim una sensação de desalento.
            Depois de ver aquela sequência inacreditável de grandes génios da pintura e de muitas das suas obras mestres, vi um quadro que me impressionou profundamente, o que mais me emocionou de todo o museu e que incluso hoje em dia posso dizer que é o quadro que mais me comoveu de todos os que vi, reconhecendo antes de mais nada que este pintor ou os seus quadros não eram os que eu ansiava ver.
            E este pintor que não estava entre os meus favoritos era Bosch e este quadro que a partir de esse dia se converteu para mim, quase em uma obsessão é O Jardim das Delicias.
            Este quadro é um tríptico e o meu primeiro pensamento ao ver a parte que se situa na esquerda, denominada “O Inferno” foi “parece um quadro de Dali”, e que perdoem os especialistas se esta ideia possa parecer quase um sacrilégio.
            Mas não é possível que este quadro se pareça a Dali porque entre outras coisas foi pintado a finais do século XIV, 400 anos aproximadamente do nascimento do famoso pintor catalão.
            Para quem não tenha visto nunca o quadro, como já foi dito anteriormente, esta composto por três painéis, o primeiro onde se mostra o paraíso terreno, o painel central que é muito mas grande que os laterais e em que no sei bem, si representa o paraíso perdido o um tratado das coisas que o homem no pode fazer senão quer acabar no último painel, é dizer no inferno.
            Aconselho vivamente a ver este quadro e se não é possível em vivo, ver-lho em algum livro ou em Internet, em relação ao painel central, estou seguro que acicatarei a vossa curiosidade ao dizer que tem diferentes cenas com nomes tão sugestivos como “A Cavalgada da Luxúria em Torno à Fonte da Juventude” “Labirinto da Voluptuosidade” o “A Fonte do Adultério”.
            Mas a mim o que me deixou sem palavras e sem respiração foi a parte do inferno, e seu sem fim de castigos, suas personagens e cenas algumas sem sentido, quase surrealista, a dor, as cores obscuras na distancia… 
Enfim, constitui um todo que provoca no espectador ou pelo menos em mim provocou una sensação de angústia, de desespero.
 A partir desse dia todo o que tenha relação com Bosch se converteu em um dos meus temas de interesse
Há umas semanas, quando estava a folhear um livro que tenho de Bosch, qual foi a minha surpresa quando me reparei no nome do museu donde estava uma das suas obras, “As Tentações de São António”, pois resulta que este museu é o Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa, e resulta que este museu está a menos de 10Km da minha casa.
Este domingo foi ao museu e ali vi o quadro de “As Tentações de Santo António” que sem ser tão extraordinário como “O jardim das Delicias” também é um quadro formidável onde também aparecem personagens assustadores e onde também se pode apreciar esse ambiente especial e terrível deste pintor.
Fiquei outra vez extasiado ao ver um quadro de Bosch
Ir ver este quadro…

MALDAD ( traduzido )

Terminei de ler “A Excepção”, um livro do autor dinamarquês Christian Jungersen que adorei e que, principalmente, me fez reflectir muito ao longo da sua leitura.
 Às vezes e, com determinados livros, permaneço quase mais tempo a pensar sobre o que diz o livro que o próprio tempo transcorrido com a leitura, sendo isto o que me aconteceu com “A Excepção”, em que encontrei ao longo das suas páginas com ideias e situações que me perturbaram muito.
 Sem entrar em pormenor no argumento da obra, vou somente referir que as protagonistas são quatro mulheres que trabalham numa agência dinamarquesa especialista em informação sobre genocídios e irei directamente ao tema fundamental do romance.


A Excepção” fala essencialmente da maldade humana e faz isto desde duas dimensões diferentes.
O primeiro plano seria a maldade intrínseca da Humanidade e as coisas terríveis que o Homem pode fazer com o seu semelhante, existindo nesta agência, uma quase infinita informação sobre massacres horrendos e crimes contra a Humanidade horripilantes, não existindo melhor sítio que esta agência para circunscrever o tema, porque na biblioteca e nos seus arquivos está recolhida quase toda a informação mundial sobre este angustiante assunto.
No segundo plano estaria a maldade do quotidiano reflectida nos conflitos pessoais e profissionais que existem entre estas quatro mulheres, acentuando-se mais esta maldade do quotidiano nelas porque são pessoas que estão disponíveis a ir ajudar um próximo, desconhecido, aos sítios piores do Mundo, mas que, no entanto, fazem sofrer aqueles que estão próximos, padecendo muito também elas próprias.
 Esta segunda dimensão terá um tratamento exclusivo em outro comentário posterior.
Voltando à dimensão mais global da maldade humana, as personagens fazem algumas perguntas abertas que ficam sem resposta, por exemplo se fosse eu, um alemão que tivesse vivido na Alemanha de Hitler, teria tido um comportamento diferente com os judeus que eram meu vizinhos, naquele contexto específico? Se em uma guerra tivessem torturado, matado, mutilado e violado aos meus seres queridos, eu teria um comportamento diferente se pudesse vingar-me? e outras perguntas semelhantes.
Estas e outras interrogações análogas têm difícil resposta ou em muitos, casos, até temos a resposta, mas como não é politicamente correcta, ou a resposta não é o que os outros estão a espera que digamos, calamos.
Eu penso que o ser humano em situações limite, é capaz das maiores aberrações e muitas vezes em nome de altos ideais. Como também acho que o Homem tem uma capacidade inacreditável para auto justificar os seus actos, incluindo os piores actos possíveis e uma série ilimitada de mecanismos e processos mentais que conseguem que nos adaptemos a qualquer situação, mesmo que seja ao papel de verdugo e sem remorsos de consciência.
Temos um ligeiro verniz cultural de bondade e de princípios morais embutidos nas nossas mentes, mas que se chega a rasgar esta capa superficial por alguma razão deixa ao descoberto o animal feroz que somos.
Como é óbvio pode haver exemplos que demonstrem precisamente o contrário, porque felizmente não somos máquinas e há pessoas excepcionais que têm comportamentos diferentes aos anteriormente descritos, mesmo que considero que estas pessoas constituem uma minoria.
O que mais me perturbou no livro foi uma ideia que foi sugerida várias vezes e que se sustenta em diferentes estudos realizados com pessoas que participaram em crimes e genocídios contra outros homens, sendo que a razão principal para as pessoas realizarem tais actos não foi, como era a minha ideia, o cumprimento de ordens superiores e o medo às consequência por não cumprir as ordenes, mas sim a pressão dos próprios colegas para realizar estas tarefas terríveis, o que nos leva a um raciocínio terrível, em que em muitas ocasiões fazemos situações que, no início, sabemos que não são as correctas para não termos de enfrentar o grupo no qual nos incluímos e não sermos portanto excluídos do mesmo, seja qual seja este grupo e isto sucede desde as mais pequenas coisas quase sem importância até a coisas mais terríveis em situações limite.
Será que eu teria tido um comportamento diferente se fosse um alemão contemporâneo de Hitler?
Quero acreditar que sim.

ASTRUV